Moradora do povoado Caju usa tribuna popular para denunciar conflitos agrários e entregar carta compromisso assinada pelos vereadores
Durante a sessão na Câmara dos Vereadores de Carutapera desta quinta-feira (26), a moradora Nailde, do povoado Caju, usou o tempo destinado ao povo na Câmara para fazer um pronunciamento em nome da União das Comunidades em Luta (UCL), denunciando casos graves de grilagem de terras e solicitando apoio formal do poder público municipal às comunidades camponesas e ribeirinhas do município.
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Foto: CTP News |
Discurso destacou violência e ameaça a comunidades
Na fala, Nailde relatou que diversas comunidades tradicionais de Carutapera vêm enfrentando há décadas ameaças de expulsão, fraudes documentais e até ataques armados, a exemplo do ocorrido na comunidade Novo Paraíso, onde duas crianças foram baleadas.
Ela também mencionou dados alarmantes sobre a violência no campo no Maranhão, que hoje lidera o ranking nacional de conflitos agrários, segundo levantamento da Comissão Pastoral da Terra (CPT).
Povoado Caju teve terras alvo de tentativa de leilão em São Paulo
Durante o discurso, Nailde também denunciou um caso envolvendo diretamente sua comunidade. Segundo a representante da UCL, documentos de origem fraudulenta estavam sendo usados para leiloar ilegalmente terras do povoado Caju em São Paulo, sem o conhecimento nem consentimento dos moradores. A atuação da entidade resultou na suspensão do leilão e no bloqueio judicial de mais de 2 mil hectares de áreas envolvidas, impedindo que a venda ocorresse de forma irregular.
Carta Compromisso é apresentada e endossada ao final da sessão
Durante o discurso, foi apresentada a Carta Compromisso do Poder Público Municipal de Carutapera com as Comunidades Tradicionais, documento que pede providências de órgãos estaduais e federais, como o ITERMA, INCRA, Ministério Público, Defensoria Pública e Judiciário, para garantir o reconhecimento legal das posses e proteção das famílias ameaçadas.
Segundo a carta, duas regiões do município concentram os principais focos de conflito: As comunidades Murujá, Iricuri, Pimenta e Manaus do Gurupi, que há dez anos sofrem ameaças;
E as comunidades Maracacoeira, Pedra Rica, Timbotiua, Arapiranga, Novo Paraíso, Cabeceiras, Cearazinho, Açutiua e Bom Destino, com mais de 40 anos de disputas por terra, culminando no ataque à comunidade Novo Paraíso, onde duas crianças foram alvejadas.
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Foto: CTP News |
O texto também cobra do Legislativo e do Executivo municipal o apoio político e jurídico necessário, além da organização de uma Audiência Pública no segundo semestre de 2025, com apoio logístico para participação das comunidades.
Presidente da Câmara reconhece gravidade da situação
Durante a sessão, o presidente da Câmara, vereador Petrônio Mesquita, declarou que, em 30 anos residindo no município, “nunca se ouviu falar em conflitos de terra como agora”, e reforçou o apoio do Legislativo às comunidades.
Atualizado | 20h20